terça-feira, 16 de junho de 2020

Banzão - Azenhas do Mar


A vida consegue surpreender-me e presentear-me até nos momentos mais complicados.

Já perdera a conta aos dias que me encontrava em confinamento, eu e meio mundo...o COVID 19  chegou sem pedir licença e alterou a vida de todos, tirou a vida a alguns e decidiu comandar o mundo...
Num dia em que já não suportava mais olhar as paredes da minha casa, pois enquanto o meu confinamento durou foi cumprido a 100%, resolvemos ir dar uma volta de carro pelas redondezas.
Sentada no carro  o vento batia-me  no rosto e eu sentia uma sensação sem descrição... fomos  andando sem rumo e chegámos à Vila de Sintra, relativamente próximo da nossa casa, depois apanhámos a estrada onde passa o eléctrico que leva os veraneios à praia das Maçãs e, quando demos conta estávamos numa localidade onde nunca estivéramos nem nunca ouvíramos falar e aqui tão perto... Banzão. Subitamente observamos uma placa que indicava um percurso pedestre, nem a lemos...  não se via viv'alma, adoramos caminhar e eu precisava tanto... decidimos avançar e analisar o perigo...
Numa vereda ladeada de árvores começámos a percorrer o trilho sem termos noção onde iríamos dar ( apesar de no final termos visto que a placa indicativa tinha a informação do trilho)  fui fotografando com o tlm tudo que via, estava na Natureza,   para mim, o maior balsamo para o corpo e mente.
 A bateria estava a terminar, o percurso ir sendo gravado no Wikiloc como quase todos que fazemos, quando ao fim de quase  4 km nos apercebemos que o ponto de chegada seria a minha tão amada Azenhas do Mar. Não queria acreditar que depois de ter estado tanto tempo confinada  Deus, o destino, o Universo me levava a um dos lugares que mais amo. Um lugar que sempre me leva à minha infância, à minha querida avó e tios avós.
Corri para o mar... estava revolto...  mas mais lindo que nunca, deixei a maresia tocar meu rosto, o cheiro invadir meus pulmões, toquei a areia, olhei as casinhas a reviver a meninice... e ali estávamos, nós e o imenso mar... o medo que habitara em mim há muito, dissipara-se dando lugar à tranquilidade...
Já não deu para tirar mais fotos nem gravar o resto do trilho, mas era o bastante, senti-me renovada e pronta a aguentar a quarentena pelo tempo que fosse necessário.
O regresso foi feito pelo mesmo trilho o que nos deu um total de cerca de 8 km percorridos, uma maratona para quem há muito se resignava ao pequeno espaço do nosso apartamento.
A caminho de casa, mesmo da janela do carro, espreitámos o imponente e belo  Palácio de Monserrate...

Foi um dia diferente numa vila fantasma... mas foi simultaneamente  um presente inesperado.
Regressámos a casa acreditando que tudo vai passar e desejando que a vida volte à normalidade  o mais breve possivel. mas sobretudo que algo pare este vírus.

Esta saída não substituiu a minha viagem a Londres, os meus encontros agendados com amigos,  os nossos passeios em família, o convívio com os que mais gosto... não me devolveu nada do que ficou perdido ou adiado... mas deu-me ESPERANÇA e é a estes pequenos grandes momentos que me agarro à vida e se sempre a valorizei,  cada dia a aprecio mais.