quarta-feira, 3 de abril de 2019

As Cegonhas de Alfaro


Alfaro Cidade das Cegonhas


Colegiata de San Miguel 

Alfaro, cidade localizada no extremo oriental de La Roja, junto a La Ribera Navarra, comporta a maior colónia de cegonha branca urbana.
la Colegiata de San Miguel, o maior templo de La Rioja, com um perímetro de telhado de 3.000 metros quadrados, é o local escolhido para a sua reprodução anual. 
São cerca de 700 indivíduos desta espécie que nos últimos anos fazem a sua migração para esta cidade.
Estas aves vivem cerca de 20 a 30 anos, sendo uma espécie monógama, permanece fiel durante toda a sua vida. Porém,  em Alfaro, devido ao elevado numero da colónia, o seu comportamento tem sido uma verdadeira aula de conhecimento biológico e cientifico da espécie. É que aqui,  tem-se observado diversas mudanças no seu comportamento, nomeadamente nos aspectos territoriais e de monogamia que as caracteriza. A proximidade que existe entre os ninhos proporciona que as crias mudem de ninho com frequência, esta proximidade por sua vez, provoca nas cegonhas adultas fortes tendências cleptómanas apropriando-se dos materiais que constroem os ninhos vizinhos.






 A proximidade  da Reserva Natural  de los Sotos del Ebro e a arquitectura barroca de La Colegiata de San Miguel, assim como a tolerância dos habitantes de Alfaro, proporcionaram à cegonha branca um lugar de eleição para a sua reprodução. Pensa-se que será a maior colónia do mundo a viver  sobre um edifício. E por essa razão a Direcção Geral do Ambiente, todos os anos se ocupa pela limpeza da Colegiata, assim como colocou em prática um plano de manutenção a fim da não deterioração do Templo. 

 







Visitámos Alfaro no mês de Julho, as crias eram já jovens adultos e estavam quase prontas a partir. É em Agosto que começam a sua emigração, dependendo do clima e da disponibilidade de alimento. Hoje com as novas tecnologias, sabe-se que o numero de cegonhas que passam todos os anos o estreito de Gibraltar são mais de 11.000, todas procedentes da Europa ocidental. Em 2012 foi colocado nas cegonhas de Alfaro  um emissor satélite para estudar o seu rumo migratório, graças ao GPS sabemos hoje que muitas cegonhas da zona da Rioja invernam no Senegal, tendo de voar 3,400 km. Partem nos finais de Agosto e regressam em Fevereiro ou Março depois de passarem cerca de 180 dias longe da sua cidade natal. Primeiro vem o macho que se apodera do ninho dos anos anteriores, após poucos dias chega a fêmea e o ritual recomeça. 

As cegonhas alimentam-se de insectos, répteis, roedores, peixes... e começam as reconstruções do seu ninhos em Fevereiro, altura da poda dos pomares, aproveitando os galhos das árvores. 
Desta maneira o agricultor Alfareño dá-lhes  as boas vindas considerando a ave da boa sorte.



Esta jovem cegonha que começava a descobrir o mundo, estava muito intrigada com a minha maquina fotográfica.


Em Alfaro, cegonhas e humanos coabitam em harmonia.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Cachorros de Monachil

Quando se pensa em Granada  vem-nos logo à ideia Allambra e Serra Nevada, mas há muito mais  a descobrir, sobretudo para os amantes de caminhada na Natureza. 

Efectuámos este percurso, conhecido por Cachorros de Monachil,  no ano de 2012, ( a palavra cachorro é usada como definição das ravinas, encostas nos desfiladeiros estreitos e profundos)  não sei se hoje, ainda, seria capaz de o repetir, mas a verdade é que ao ver as fotos de então, senti uma enorme vontade de reviver esta aventura... enquanto não é possivel  (se algum dia o for...)  relembro e partilho esta caminhada por um lugar fantástico, situado no Parque Nacional da Serra Nevada a cerca de 8/10 km de Granada. 


Depois de deixarmos o carro na povoação de Monachil e de caminhar por uma estrada de terra batida, avistamos as  ruínas de uma antiga central eléctrica.

Entre vales e montanhas, passando pela Cueva de las Palomas, quase sempre acompanhados pelo rio Monachil, subindo e descendo, gatinhando, atravessando pontes suspensas, assim foi esta aventura.






Ruínas da antiga Central Eléctrica
( De lamentar a presença de vandalismo lixo e rabiscos grafitados sujando pedaços de história...) 

Chegámos à primeira e a maior, deste percurso, ponte suspensa. Com cerca de 63 metros de comprimento e 15 de altura.
 A ponte original foi construída à cerca de um séc. atrás e era feita de cordas. , há uns quarenta anos foi construída esta com materiais mais resistentes. 
Contudo não deixa de intimidar um pouco... 
  

Ponte suspensa com 63 metros de comprimento a 15 de altura do solo 


Baixo-me para fotografar-la de outra perspectiva... a sensação é de que a mesma é infinita...


O coração acelera e a adrenalina sobe, um pouco a medo começo a travessia, mas se o receio me acompanhava no inicio, logo se dissipa perante tal beleza. Uma imponente cascata corre abundantemente em cachos de águas glaciares, a altura a que me encontro é vertiginosa, lá em baixo, pessoas refrescam-se nas piscinas naturais, o calor é muito, não aconselho ninguém a fazer esta caminhada em Julho, como nós e muitos outros que se cruzaram connosco...  





Terminei a passagem, triunfante aceno ao Artur que esperava pacientemente,  tinha-lhe pedido que não atravessasse ao mesmo tempo para que a ponte não oscilasse muito  :-)


Ao longe uma "formiguinha" começa a travessia




Depois de passar a ponte o percurso baixa até ao rio e caminhamos numa garganta estreita entre  desfiladeiros  com  "paredes" de mais de 30 metros de altura, onde se pode observar numerosas vias de escalada e alguns praticantes deste desporto.

 O caminho é feito sobre um estreito passeio de cimento que cobre  e protege uma conduta de água potável que abastece a povoação de Monachil.



 Em algumas partes do percurso somos obrigados a andar de gatas e noutras agarrados a ferros, este caminho irá conduzir-nos a uma bonita gruta, esculpida pela erosão fluvial. 








                         

Cueva de Las Palomas 








 Depois de deixarmos o Túnel e a Cueva de Las Palomas, Abrem-se-nos várias hipóteses de caminhada. Optámos por seguir o caminho que nos levaria ao estacionamento, o calor era muito e a água começava a escassear...


Cruzámos diversas pontes suspensas, caminhámos  sempre junto ao leito do rio, ora paralelos,  ora nas alturas o que nos permitia apreciar a beleza de toda a paisagem envolvente...
Aos poucos sentíamos a descida  o que significava estarmos cada vez mais próximos do fim. Se por um lado o lamentávamos por outro o desejávamos pois o calor era tanto e sombras muito poucas... 





 Ao longe avistava-se Monachil, a nossa aventura estava a terminar, mas o bom é que nunca sabemos o que nos espera até ao final...






E depois de descermos bastante por caminhos, escadas e pontes, chegámos ao cume  de mais uma  cascata.  Tínhamos avistado algumas ao longe, esta estava tão próxima... 
Estávamos demasiado cansados e contentá-mo-nos somente  por a apreciar do alto.





Demos por terminada esta caminhada, daqui ainda tivemos de caminhar até ao carro e não era tão pouco assim e sempre sem sombras... prometemos voltar um dia.. quem sabe... 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Orós de Bajo

 Após viajarmos,  cerca de quinze ou dezasseis anos consecutivos, aos Pirenéus Espanhóis, a Natureza ainda nos consegue surpreender e sempre nos reserva um  recanto desconhecido que nos encanta.


Cascata Orós de Bajo  Sabiñánigo _ Valle de Tena

Para este dia preparámos um passeio ligeiro,  uma caminhada curta sem grandes desníveis  ou dificuldade de maior. A Cascata estava ali tão perto e de percurso fácil e nunca resistimos a uma cascata... estacionámos o carro e logo uma placa informativa nos indicava o caminho.


Enquanto nos inteirávamos do percurso que nos esperava, fomos abordados pelo Sr. Gregório que após se apresentar nos perguntou  se não desejávamos visitar  a Igreja  de Sta Eulália, ao que respondi que esse seria o nosso passeio de tarde. Ele insistia e eu olhava o sol que já ia alto e só pensava que para fotografar a cascata em boas condições quanto menor  luz melhor... mas, após a sua insistência, lá cedemos e em boa hora o fizemos,  pois do roteiro das Igrejas de Sarrablo esta foi a única que tivemos o privilégio de visitar o seu interior.


Interior da Igreja de Sta Eulália, estilo moçárabe do séc.. XI               

Posteriormente dedicarei um post sobre esta e outras igrejas.

Após a visita e o longo diálogo com o Sr. Gregório, homem simples, muito educado,  orgulhoso e cioso da sua terra, demos inicio ao percurso.


Como é possivel ver acima, é de facto muito fácil o acesso a este  pequeno paraíso.

Muito pouco tempo após o inicio da caminhada, chegamos a uma primeira cascata, resultado de uma pequena barragem.


Seguimos subindo as escadas de madeira até ao cimo. A partir daí a estrada, de pedra solta,  fica mais estreita  e há que ter algum cuidado,  caminhando sempre do lado esquerdo do rio chegamos à encantadora cascata de Orós de Bajo onde águas cristalinas deslizam fortemente no barranco d'os Lucars.


Uma piscina de água verde esmeralda encontra-se lotada de banhistas e amantes da Natureza. Pelas escarpadas rochas descem os aventureiros  praticantes de Canyoning rapel, ( também conhecido como canionismo). Um desporto que envolve uma variedade de  técnicas, incluindo, caminhada, escalda, jumping, rapel e natação. Timidamente aproveito para registar alguns momentos,  mas logo me deixam à vontade, devolvendo-me sorrisos quando após o mergulho  se acercam de nós.











A textura e as formações rochosas são verdadeiras obras de arte esculpidas pela erosão do tempo.. encantam-me.


E, como nestes lugares parece que todos nos conhecemos, um jovem casal ofereceu-se para registar o momento para mais tarde recordar.


No regresso mais um olhar sobre a represa... 


E assim foi a nossa descoberta a este pedaço do paraíso. Um lugar que,  não obstante a afluência de turistas devido ao seu fácil acesso... parece intocável pelo homem sendo  uma verdadeira jóia da Natureza.