Este ano decidimos fazer umas férias diferentes, aventureiros como somos, decidimos arriscar um pouco e fazer um "tour " de carro por alguns pontos europeus.
Inicialmente pareceu-me um bicho de sete cabeças, porém após alguma pesquisa e organização, logo percebi que iria ser uma aventura inesquecível.
Partimos com um único ponto de referência, Frankfurt. Local onde visitaríamos a nossa filha, o percurso intermédio, seria uma aventura continua , sempre à descoberta de novas paisagens, culturas, sons, cor e sabores...
Arrojámos e testamos limites, regressámos de coração lotado de felicidade e uma sede insaciável de um dia repetir...
Inevitavelmente, abriu-se-nos uma porta para um novo mundo...
Após algumas paragens necessárias, chegámos a Jaca, um pequeno município localizado no Valle de Aragón, na Província de Huesca. Como gostamos muito de natureza em particular a zona dos Pirenéus, permanecemos por aqui cerca de uma semana.
Visitámos Jaca e a sua lindíssima Catedral de San Pedro, de construção românica, é uma das mais antigas em Espanha ( 1077- 1130 ) A Cidadela, uma impressionante fortaleza Militar de forma pentagonal, rodeada de um fosso, onde passeavam veados tranquilamente, o Real Monasteiro de San Juan de la Peña uma jóia da era medieval, O Monte Orel, onde se situa o novo mosteiro e o centro de interpretação entre outros monumentos de enorme beleza e interesse, como a Estação de Canfranc , nas proximidades de Jaca.
Jaca, oferece-nos um infindável numero de rotas para caminhadas afim de desfrutar da natureza.
E claro que os pares de botas estavam pronto e lá fomos nós desfrutar dos benefícios que uma boa caminhada nos oferece.
Após uma magnifica estadia em Jaca, chegara a hora de prosseguir viagem. Atravessámos França dormindo apenas uma noite entre Espanha e Alemanha, pernoitámos em Bonny -Sur- Loire, bem cedo retomámos viagem havendo apenas tempo para um breve "petit dégeuner" .
A viagem prosseguia sem percalços e as vistas eram magnificas e relaxantes. Mesmo em andamento ia fazendo o gosto ao dedo e captando alguns lugares que o meu olhar abarcava.
Por fim chegámos a Frankfurt.
No dia seguinte passeamos pelo centro da cidade. Durante a nossa estadia explorámos um pouco melhor Frankfurt e visitámos algumas cidades das proximidades.
Foi uma estadia fabulosa, sobretudo pela felicidade do reencontro familiar.
De regresso a casa a aventura ia a meio, por sugestão da nossa filha, visitámos Luxemburgo, cidade. Muito mais pequena do que eu imaginava mas que encerra muita beleza e história.
Prosseguimos viagem e a próxima paragem, Limoges.
Conhecida mundialmente pela sua produção de porcelana, tem muito mais a oferecer.
Em Limoges podem-se encontrar vários monumentos históricos, como é o caso de sua catedral de estilo gótico, da igreja dos Leões, do Mercado Municipal, das pontes de origem romana que cruzam o leito do rio Vienne.
A viagem prosseguia sem pressas, parando ao convite de belas paisagens e.... do meu coração...
Passámos por Paris, mas nada vimos da cidade da luz... quiça um dia regressamos... o meu propósito era outro, tinha uma despedida inadiável a fazer... e foi feita... vivemos momentos de dor e emoção mas a vida para ser completa tem de passar por todos os ciclos... aqui.. em Paris fechou-se mais um ciclo da minha vida.
Num misto de sentimentos seguimos viagem...
Amantes de natureza, como somos, não obstante termos apreciado toda beleza e cultura citadina que tivemos o privilégio de visitar, estávamos sedentos de natureza... a mesma equilibra nosso espírito e mente.
Direccioná-mo-nos a outro ponto dos Pirinéus um pouco à deriva sem sabermos muito bem ao que íamos... e eis que quase me sinto num outro continente.
Alquézar do cimo da colina com o seu casario em escadaria esperava por nós.
Ficámos maravilhados. e nos quedamos por lá.
Aqui perde-mo-nos pelas estreitas ruas medievais, senti-me moura na Colegiata de Santa Maria de La Mayor, nas noites quentes veraneias apreciámos a panorâmica deste lindíssimo quase mágico lugar. Caminhámos nas famosas " Passarelas del Rio Vero " ... e dissemos um adeus forçado... Isto de se viajar sem reserva é complicado e não conseguimos estadia para mais noites e se o preço era elevado... mas estava tudo esgotado.
Resignados a viagem prosseguiu. Estava quase a terminar esta jornada mas ainda nos esperavam algumas agradáveis surpresas.
Sem agenda marcada, como quase tudo que visitamos, depara-mo-nos com uma placa que indicava Santuario de Torreciudad, decidimos "espreitar" e ficámos maravilhados. Inicialmente pelas vistas que o mesmo oferece, depois aos poucos fomos sendo cativados pela magnifica arquitectura, por fim, enquanto fazíamos a nossa visita, fomos abordados por um Sr. Bruno, seu nome, que ao ver-nos o equipamento fotográfico, se ofereceu para nos fazer uma visita guiada ao Santuário.
Eu, que inicialmente, por respeito ao local, só tinha registado uma foto com o tlm, tive o privilégio de ver e fotografar todo o santuário, inclusive as partes fechadas aos fieis.
O que seria uma breve visita, transformou-se numas largas horas, mas nenhum de nós saiu de lá repeso... muito pelo contrário, naquele lugar de culto encontrei a paz.
A seu tempo, farei outras postagens sobre todos os lugares visitados, sobretudo sobre o Santuario de Torrecuidad, uma promessa feita ao Bruno, por reconhecimento e agradecimento pela sua " hospitalidade e simpatia.
Registei mais umas panorâmicas porque as vistas eram de encher a alma e regressámos à estrada....
A viagem estava prestes a terminar. Uma aventura inesquecível que nos abriu novos horizontes.
Fizemos uma breve paragem simplesmente para tentar "visitar" a Apolo, uma borboleta lindíssima que habita no mês de Julho as montanhas do Pirenéus. Já estávamos quase no final de Julho e a probabilidade de a ver era menor, mas mesmo assim fomos premiados com o seu voo. Avistavam-se muito poucas em relação ao ano anterior mas valeu a pena o pequeno desvio.
E assim, não nas asas de uma Apolo, mas ao som das rodas no asfalto, terminou esta aventura.
Mais um troço de uma jornada a dois.
Para Além da Curva da Estrada
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa